quarta-feira, 26 de janeiro de 2011


fecho os olhos e sinto



meus amigos estão cá dentro
tal qual sentimento de partida e chegada
tal qual a mulher amada - que muitas vezes é mais que amada, é amiga e confidente-coração

meus amigos são necessários
tal qual meu vinho na solidão
as vozes deles ou suas palavras escritas me salvam da escuridão
são minha Pasárgada - talvez -
uma ajuda que me empurra para o novo dia
e em noites escuras clareiam os becos escuros de minha solidão

nunca amaria meus amigos com a carne
ela é tão etérea
e pode perder o gosto quando mastigada

abraço meus amigos como filhos-irmãos-pai-mãe-religião

não, não quero viver mais sem eles

não posso escolher não tê-los

hoje entendo o quão necessário é o amigo
ontem não soube, mas os melhores esperaram por mim
e estão aqui, sempre,
mesmo parecendo tão longe
eles vivem em mim

(Flávio Arruda)

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

egoísmo

Posse

possuo o que me possui
não, não posso
não passo de objeto
de desejo
de beijos
de lampejos de ilusão

não sou dono
mas não abandono o desejo de ser

que posso dizer
do meu querer
sem poder
sem perder o egoísmo
da posse
mas de repente
me percebo objeto
dileto
desperto
num sonho prisão

"Angústia de felicidade", Ana C. diria
eu repito e acrescento o acento de uma felicidade clandestina
íntima satisfação
loucura e desejo
arrependimento e vontade

se possuo, não sei
se sou objeto, talvez
sei que vivo o eterno instante
caminhando entre nuvens
correndo sobre o fogo
dormindo para sonhar de novo.

(Flávio Arruda)