Voltando a escrever
EM PROSA
Há
muito de verdade e mentira em poucas palavras.
Confesso: são minhas as palavras que me importam. E são verdadeiras, mas são minhas as
mentiras. Explico: minto toda vez que me privo da verdadeira ingratidão da
possibilidade minha de falar o que sinto.
Um”
bom dia!” pode ser mentira quando sou
apenas conveniente. Digo isso porque dou poucos “bons dias” de verdade, pois
sei que as palavras devem ser respeitadas, mas tremo frente à possibilidade de
ser grosseiro dentro dessa conveniência dos bons hábitos de civilidade.
Porém,
sofro!
Gostaria
de poder desejar “bom dia” por amor/amizade/respeito/ sinceridade. Todavia,
devo fazê-lo por burra fidalguia.
Sofro
com a hipócrita falta de honestidade!
Sou
verdadeiramente apaixonado pela linguagem! Amo a mais significativa invenção
humana, e digo, sinceramente, isso sobre todas as formas de linguagem, mas,
sobretudo, em relação àquela que não domino, a música. Porém, não me queixo.
Sei que sou limitado (apesar de todos os esforços humanos de Dupam e Samuel),
sou um arritimado.
(queria
cantar para meus amores, Grisi!)
Sei,
sei! Parece que me lamento. Não! Só divido com o caro leitor a singular
realidade desse momento de busca pela humana razão do ser eu.
Honestamente,
queria comer os chocolates de Pessoa. Porém, tenho a boba noção do “papel
prateado feito de folha de estanho”, e, também, deito tudo para o chão e mesmo “a
vida”. Desse modo, aprendo e apreendo um pouco dessa inglória necessidade de
convencer Sancho de não acompanhar o cavaleiro bobo e idiota que sou.
Mais
uma vez me lamentando. Chega!
Prefiro
os dias limpos e sem tarefas de salvar todos. Nunca me salvo. Por isso, pelo
menos hoje, danem-se!
Por
alguns dias, quero a insensata falta: de responsabilidades, de dores, amores,
louvores, ardores e labor, pois hoje quero a tola razão de negar o meu ser
protetor. Quero só estar num não lugar, que Marcos me ensinou.
Hoje
é dia de não avaliar os erros (tantos) e os acertos (incertos), pois vejo a
necessidade de não ser idiota, hipócrita, orgulhoso, áspero, marido, amor, pai,
irmão e filho.
Queria
ter livremente inveja dos que amo (só amo quem admiro)! Falar para eles da
minha sorte de tê-los em tantas horas.
Queria
muitas coisas, mas, sobretudo, hoje queria ser lido e inquietar os que me amam,
pois sei que sou amado, mas tenho consciência dos que precisam escutar minha
humanidade, por vezes escondida.
Dedico as palavras aos poucos que amor/amigo/irmão/companheiros
são a mais pura linguagem dos meus poucos, por hora, dias.
3 Comentários:
O que acho mais lindo na tua escrita é a metalinguagem entre a vida e o sentido.
Viver na linha entre o querer e o ter, a vontade das diferentes escolhas, mas seriam melhores? Seria mais divertido?
Vai saber se a tua Dulcinéia ou a tal tabacaria não estão à tua janela. Vai saber se aquele pássaro que canta não é teu ritmo a flutuar entre teus sonhos e tijolos.
Vai viver que a tua vida vai se tornando amiga ou tu vais te tornando vida.
E vives com a certeza de que as pessoas que te amam sabem o lugar exato da tua humanidade. E a respeitam. E te respeitam. Quanto a verdade, encontra-se apenas vinculada a questão de conveniência. Preocupe-se em ser. E integrar-se naquilo que junto a própria escolha, te completa.
Pois
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