quinta-feira, 22 de julho de 2010

A charge é de Quino!

Desejo

Desejo dias felizes!
(todo mundo deseja isso)
mas a felicidade é tão, tão, desejo!

Se me atendessem os desejos, eu seria feliz
(todos seríamos)!

ele deseja amor,
sua felicidade está naquela que completa seu corpo.

Ela deseja amor,
e ele, feliz, a encontra.

Muitos desejam dinheiro,
sexo,
vitrine
ser vitrine,
comprar felicidade instantânea de cheirar, tomar, injetar, beber, fumar.
Felicidade no prato do faminto, na conversa do solitário,
no homem de joelhos que ora para o nada ou seu tudo,
na bala do suicidas!

O que desejo eu?


sexta-feira, 2 de julho de 2010

Estou triste porque perdemos, mas quem sabe assim a gente não vota melhor?!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sufoco

o amor, esse sufoco,
agora há pouco era muito,
agora, apenas um sopro.

ah, troço de louco,
corações trocando rosas,
e socos

Paulo Leminski


Do desejo
(trechos)

Hilda Hilst


I

Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.

IV

Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo. E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo. Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?

V

Existe a noite, e existe o breu.
Noite é o velado coração de Deus
Esse que por pudor não mais procuro.
Breu é quando tu te afastas ou dizes
Que viajas, e um sol de gelo
Petrifica-me a cara e desobriga-me
De fidelidade e de conjura. O desejo
Este da carne, a mim não me faz medo.
Assim como me veio, também não me avassala.
Sabes por quê? Lutei com Aquele.
E dele também não fui lacaia.


Os versos acima foram publicados no livro "Do desejo", Editora Pontes - Campinas (SP), 1992, e foram extraídos do livro "Os cem melhores poemas brasileiros do século", editora Objetiva — Rio de Janeiro, 2001, pág. 289, uma seleção de Ítalo Moriconi.

Por enquanto, é só!